domingo, 24 de junho de 2012

A praia.

Na tua ausência meu mar foi branco
Não havia espuma nas águas
Nem pássaros voando
Só existiam nuvens amarelas
Estavam carregadas no céu que deveria ser azul
E chovia pus e sangue como se minhas lágrimas fossem
No meu céu sem cor.

Na tua partida meu mar ficou macabro
As águas escuras
Fez muito frio e foi sempre noite triste
Só se via, de longe, algo que parecia luzes em postes
Minha praia era longe de tudo
 Minha alma chorava e eu bebia as lágrimas
E elas tinham o sabor das gotas de teu orgasmo

Após todos esses anos agora voltas e pairas sobre o mar
Minha loucura faz-me ver meu mar ora azul celeste
Ora verde-esperança
Nos teus belos olhos mil azuis e verdes vejo refletidos
Por trás de ti observo como o sol está vermelho
É dia enfim e reluz novamente o meu amor
E alucinado decido então ir a teu encontro

Esse grande tubarão não permite a minha entrada em teu mar
O enfrento e nado em tua busca loucamente
O vento leva tua imagem para o alto e alto-mar
A distancia novamente faz morrer as cores alegres
Vejo outra vez tudo cinza e volto à praia triste
Meu coração amargurado em solidão enfim desiste e para
Meu ultimo sonho tem três fotografias em negativo
Uma que é cópula
Outra em que durmo sobre teus seios
E uma em que ternamente me afagas...

Mac. 04.03.2011

Hoje tem...

Um menino com fome na calçada
Um político que aumenta seu salário
Um caranguejo num mangue transformado
Um hipócrita de toga debochando
Um cadáver na esquina incriminado
Uma árvore queimada na floresta
Um esgoto correndo a céu aberto
Um mendigo sem direito a renda básica
Uma jovem sonhando com um marido
Uma igreja roubando seus discípulos
Uma briga sem motivo na esquina
Umas drogas ditando o espetáculo
Desse caos filosófico desumano
Nessa bosta de cidade desorgânica
Desse povo sem proposta urbana
Nessa mesa que não tem mais Cristo
Que esta vendo irmãos se matando
Por migalhas vãos desentendimentos
E o órfão sem o pão na ceia
Um prefeito cheio de ciúme
Do juiz que recebe mais
Que o siri primo do cadáver
Que agora senta ao lado santo
Na mesa em que Cristo chora
Junto ao mendigo ressurreto
Enquanto dois corpos dormem
No motel mais caro da urbe
Onde reside numa rua qualquer
Um menino com fome na calçada
Enquanto eu pesco lixo no rio podre
Para alimentar o suicídio de vós todos
Que preferem o uso do silêncio
Enquanto eu me reúno com dom Élder
Para julgar o futuro da nação
E condenar vossa luxuria a morte
Explodindo os shoppings da cidade
Para que voltem a comprar nas barracas
Os itens de seu consumo básico
E talvez lembrem o sangue na cruz
Derramado para que haja o pão
E para que todo cidadão seja
Igual ao menino com fome das calçadas
E que ainda haja algum tempo
Para vislumbrarmos a alegria
De dançarmos amanhã um coco
Com Bezerra da Silva lá no céu
E um forró com Luiz Gonzaga
Ouvindo Patativa do Assaré
Todos nós vestidos de mendigos
Eremitas praticando o desapego
Das desgraças do dinheiro e do poder
Para que amanhã não mais exista...
Dinheiro, poder, luxúria, lixo nos rios,
Árvores cortadas, mortes sem motivo,
Moças sem noivos, diabos corruptos,
E... Meninos com fome nas calçadas.

Mac. Junho 2012.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O poeta Roberto Macarrão declama na net.

Caminhando do CE para o CAC na UFPE o amigo Mustafá pede para que eu declame uma poesia para o site. Eis o link: http://www.youtube.com/watch?v=H4-9IIJ6cLY&feature=youtu.be

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Maio - O mês das "sagradas mães".

A “alma feminina” de um dos poetas Pernambucanos. por: Macarrão*. Neste mês de maio do ano de 2012 de Nosso Senhor Jesus Cristinho o poeta conta a verdade de seu sonho no qual o Deus mulher, há algumas décadas atrás, observando o estado de podridão e loucura em que se encontrava a terra mauricéia, decidiu enviar deusas e sibilas, todas poetisas, todas lindas, sereias celestiais, afim de exterminar o desapego e solidão que fazia sofrer os pernambuquinhos. Houve um grande conselho no céu no início da segunda metade do século passado e ali ficou decidido. Naquele sonho estavam presentes o Deus mulher maior, esposa do Deus homem maior, e as esposas dos Deuses Buda, Maomé, Crisnamurti, e Krishina. Essas cinco e mais Iansã e Iemanjá, secretárias do conselho que também assinaram o termo de salvação. Sim! Termo de salvação porque as enviadas tinham por missão trazer a beleza aos corações dos homens da Roma de Bravos Guerreiros. Porém não enviaram as deusas poetisas de uma só vez. Estão sendo enviadas até hoje e lembraremos-nos de algumas delas adiante. Algumas damas-deusas da década de 60, umas armorial-marginais de 70, algumas margino-independentes de 80 e 90, outras novas-sibilo-pragmáticas da rica primeira década do novo século, e até lembraremos umas ultra-pós-ficcionais de nossos dias. É realmente fenomenal a poesia Pernambucana, não é? Tag question a parte, e já respondido, mais fenomenal ainda fica se separarmos a poesia em nosso Estado, e nem sei se isso é necessário, em poesia dos homens e poesia das mulheres que fazem a poesia aqui na terra de Manoel Bandeira. Essas deusas foram escolhidas a dedos-de-deus não só pela beleza que suas letras poderiam levar à mente de todos nós, mas também por todos os outros atributos que trazem consigo. Via de regra são excelentes mães, amigas, conselheiras, e grandes mulheres de cama, mesa e banho. Conheço algumas delas, umas cheirosas e outras muito cheirosas; algumas brancas e outras morenas e negras; altas ou baixas; ricas e pobres; lindas ou muito lindas. No sonho, anáfora minha (aqui mecanismo de retomada lexical), eram bem mais de cem. Estavam todas presentes, mas ao acordar, pequei de pronto uma folha de papel pautado e tratei de escrever o nome de cada uma delas. Infelizmente, e apesar de muito esforço, não consegui lembrar-me de todas elas, porém depois de terminar de grafar no papel seus nomes, fiz outra lista, esta que levo a todos em ordem alfabética, e faço isso com o intuito de estimular todos a pesquisarem e buscarem ler alguns textos dessas deusas-poetisas. Adélia Flô, Adriana Guimarães, Adriana Perruci, Aline Andrade, Ana Cely Ferraz, Bia Marinho, Beatriz Montenegro, Cecília Vilanova, Cida Pedrosa, Dione Barreto, Elizabeth Hazin, Fátima Quintas, Flavia Gomes, Flor Pedrosa, Gabriele Vitória, Geórgia Alves, Gerusa Leal, Haidée Camelo, Heloísa Bandeira, Jade Dantas, Jacineide Travassos, Jair Martins, Janice Japiassú, Júlia Larré, Júlia Lemos, Júlia Rocha, Jussara Salazar, Ladjane Bandeira, Luciana Rabelo, Lucila Nogueira, Maria da Paz Ribeiro Dantas, Mariane Bigio, Marta Braga, Micheliny Verunschk, Nathália da Mata, Raisa Feitosa, Regina Carvalho, Risomar Fasanaro, Samantha Medina, Silvana Menezes, Suzana Moraes, Telma Brilhante, Tereza Tenório, Verônica Brayner, e Vitória Lima. São algumas que estavam no sonho e que lembrei... Fiz umas pesquisas em sites e minha lembrança para elaborar o rascunho. O conselho dos céus foi generoso com a terra de Luiz Gonzaga. E eu, deixo para ativar a curiosidade dos leitores, um poema de Lucila Nogueira, para mim a rainha da poesia pernambucana, poema esse que com certeza é também sentimento de todas as outras que citamos. Poema “I” de Zignares. Falarão meus poemas pelas ruas De cor como receita de viver E aqueles que sorriem pelas cosas Recitarão meus versos sem os ler Falarão meus poemas pelas ruas De cor como receita de viver Dirão que fui um mar misterioso Onde quem navegou não esqueceu Falarão meus poemas pelas ruas De cor como receita de viver Dirão que era poesia e não loucura Meu jeito de sonhar todos vocês Falarão meus poemas pelas ruas De cor como receita de viver Perguntarão por que vivi tão pouco Sem dar-lhes tempo de me perceber E aqueles que sorriem pelas costas Recitarão meus versos sem os ler. E o poeta assim se orgasma em sua alma feminina com as sutilezas e verdades ditas e eternizadas por essas Deusas das Palavras, deixando a todos esse lindo sonho. Sintam-se todos abraçados por um poeta pernambucano. Não é necessário, por hora, falarmos dos recentes embates na Síria e no Sudão, nos altos índices de assassinatos que assola nosso querido Ceará, e nem dos juízes que vendem sentenças, dos policiais e políticos corruptos, aqueles que parecem não ter família, filhos, amor por nada, nem a Deus, não, não adianta falar das armas que vivem livres nas mãos de crianças e jovens, e dos “atos isolados” como são classificados os crimes hediondos, chacinas e tudo o mais que vemos diariamente nos programas de TV. Fiquemos somente desejando a todos um “feliz dia das mães” e vamos todos aos shoppings fomentar um pouco o grandioso pai responsável pelo caos urbano e rural que bebemos diariamente, o capitalismo. Por hora, deixo-vos uma máxima: - Só a poesia pode salvar a todos! * Roberto (macarrão) Queiroz é empresário, poeta, pesquisador da poesia pernambucana e aluno do curso de letras na UFPE.